segunda-feira, 11 de abril de 2011

ENTREVISTA: MARCEL LEAL

Desta vez a entrevista não é com nenhum artista, mas alguém que além de amar a arte e andar ao lado dela e dos artistas, fomenta a sua valorização através de eventos incremetados por ele.

O blog artistasdeitabuna teve um breve bate-papo virtual com MARCEL LELAL.

Ele se apresenta:

Sou meio de Itabuna, meio de São Paulo, estudei aqui (Colégio São José, AFI, Colégio Estadual) e em São Paulo (Colégio Estadual Paulo Egydio Martins, Colégio Batista Brasileiro e formado em publicidade pela USP).
Fiz especialização em rádio e TV na BBC, em Londres. Voltei para fundar a Morena FM em 1987 e a Jupará Records em 1995, assumi o jornal A Região em 1998, abri o provedor Grapiuna.com em 2000 e criei a Fundação Jupará em 2002.

Marcel Leal - 05-01-2005 - 2

AI – Existe uma crítica por parte dos artistas com relação à divulgação dos meios de comunicação da região. O que falta para que os meios de comunicação e os artistas caminhem juntos para a melhoria da arte grapiúna?

ML - Os artistas estão cobertos de razão. Falta interesse por parte dos meios de comunicação, que ainda acham o artista local "inferior" aos de fora. Com raras exceções, eles sequer ouvem o material que o músico deixou por lá.
O artista precisa visitar com mais frequencia as emissoras e não aceitar ser usado. Por exemplo, a mesma emissora que não toca o artista regularmente pede para ele tocar de graça no aniversário ou outro evento da rádio ou da TV.
O artista só deve fazer isso se teve, ao longo do ano, respeito a seu trabalho na emissora, se foi tocado, lembrado. Vejo muito artista tocando de graça para emissoras que são claramente preconceituosas em relação ao artista local.
Outra coisa que pode ajudar é separar uma parte dos CDs que conseguir fazer para divulgação nas rádios, que é quem realmente projeta o artista, incluindo sorteios. De preferência, autografar os CDs de sorteio, para agregar valor.

AI – Você foi o mentor do projeto Jupará que além do troféu rendeu seis CDS com artistas da região. Por quais motivos o projeto dos discos parou?

ML - Por vários motivos. Um deles foi à falta de novidades. Poucos artistas da linha de MPB ou pop gravaram músicas novas nos últimos anos e alguns mudaram para outros lugares. Tem muito arrocha, mas esta não é a linha do Jupará.
O outro motivo é a maior dificuldade em conseguir patrocínio para produzir os discos.

AI – Os empresários são receptivos a arte na nossa região?

ML - Não. Os que podem ajudar e são receptivos fazem parte das exceções, como Águia Branca, Rota, Gávea Design, Unimed, Bitway, shopping Jequitibá, por exemplo.
E outros que não podem patrocinar com dinheiro, mas são parceiros fundamentais, como MM Studio, Studio Brown, Buffet Del Pomo, AABB, CCAF, Fundaci, Barrakitika.
Gostar de arte depende muito da cultura que a pessoa adquiriu na vida e, infelizmente, a maioria dos empresários daqui rala desde cedo, não teve tempo nem chance de ter mais cultura.

AI – Artistas como Cacau com Leite, foram lançados pela Morena FM. Quais os maiores sucessos lançados até hoje?

ML - Nada se compara à explosão do Cacau com Leite em 1994 através, unicamente, da Morena FM e outras músicas que vieram depois (Vim Vim, Volte Logo, Amo Você, Um Adeus Dói, Paixão, Chora Peão, Noites Na Cama, Que Saudade do Teu Cheiro, etc).
Mas posso citar a mudança do Lordão de banda de baile para forró ou a popularização do próprio forró no sul da Bahia, um trabalho nosso através do Xamêgo da Morena.
Existem outros sucessos, como Serra do Jequitibá que, apesar de já conhecida, renasceu ao tocar na rádio; Amantes da Terra do Marcionilio, Lua de Prata, de Hilário Lima;
Biojazz e Grão do Amor de Emerson Mozart; Palavra Retida e Escassez de Fabiano Carillo; Eu Bem Que Te Disse de Robertinho Rondó; O Tempo e o Vento do Lordão;
Menino Bonito e Flor de Bem Querer de Anacy Arcanjo; O Rei do Gado e Rio Cachoeira de Guiga Reis; Divindade de Chica de Cidra; Frutos Dourados de Caê;
Contraste Urbano de Jan Costa; Vem Ficar Comigo de Marisa Mendes; Canto Pra Lua da banda Vera Cruz; Jardim de Alá, Canção do Rio e Encantado de Marcelo Ganem;
As músicas das bandas Gang Cidade, Forró do Karoá, Farol Blues Band, Sambarka, Mel de Forró, Carbono 14
Sei que me esqueci de muitas outras, por isso já peço desculpas.

AI – Os artistas tem que tomar novos rumos para que sejam mais bem divulgados?

ML - O artista, antes de qualquer coisa, tem que ser fiel à sua linha, ao que gosta de compor e cantar. Como fez João Bosco a vida toda. Entrar no modismo pode até te dar um sucesso momentâneo, mas acaba com sua imagem junto a quem gosta do que você faz.
Tem uma banda de forró que gravou um arrocha porque estava na moda. Se deu mal, foi criticada pelos fãs e voltou ao estilo que a consagrou.
Para uma boa divulgação não é preciso novo rumo. Tem é que visitar sempre as rádios, ser fácil de achar para entrevistas (tem artista que some, ninguém acha).
Criar público participando de eventos de massa mesmo sem ganhar ou ganhando pouco (com a ressalva acima sobre veículos que não tocam o artista).
Enviar sua música para o máximo de rádios possível. Hoje é fácil, via e-mail, mas mande em mp3 codificado a 320kbps para garantir a qualidade. Sem qualidade, não adianta a música ser boa, pois muitas rádios não vão tocar (a Morena FM, por exemplo).
O CD, ou a música tocando nas rádios, é o que gera shows e é nos shows que o artista ganha seu sustento.

AI – Existem projetos, seus, que vem por ai para movimentar a vida artística de Itabuna e região?

ML - Não está fácil, mas pretendo colocar online todas as músicas dos CDs Jupará 01, 02, 03 e 04, mais o Xamêgo da Morena e o 98 Graus, com qualidade, no novo site da Jupará Records, que está sendo construído.
Tem mais uns dois projetos, mas prefiro não falar deles por enquanto.

AI – Cite artistas (Em todas as áreas) que são destaques como novidades e eternos na nossa região?

ML - É sempre um problema citar nomes, porque a gente não tem como citar todos. Por isso, vou dar um ou dois nomes em cada área como representante dos outros.

Waldirene Borges e Carlos Santal na pintura; Cláudia Dórea no Ballet; Ramon Vane e Rita Santana no teatro; Osmundinho na escultura; Lucas Abude na música.
Falar das novidades é pior, não saberia por onde começar. Mas posso dizer que será difícil ter tantos artistas novos e de qualidade quanto no período entre 1994 e 2005.

AI – O que gostaria de responder e não foi perguntado?

ML - Só queria repisar que o artista deve insistir na sua linha, no que seu coração manda tocar, cantar. E lembrar que a Morena FM e o jornal A Região estão sempre de braços abertos para a cultura regional.

AI – O blog agradece a entrevista com Marcel Leal e espera que esta mente brilhante continue criando projetos para divulgar e valorizar a arte grapiúna.

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2 comentários:

Rita Santana disse...

Marcel sempre será caríssimo dentro de minha alma. Foi um momento especial aquele que vivemos no Jupará. A sua generosidade e a sua visão diante do artista sempre foram espantosas para o perfil do empresário da Região. Saiba que tenho você comigo sempre, com muito cuidado e carinho. Respeito muito o seu trabalho e gosto imensamente de você. Um grande abraço, meu querido! Boa sorte nos sonhos vindouros.

Zenon MG disse...

Achei suas palavras sábias e verdadeiras, mesmo não sendo mencionado entre os "grandes" artístas da terra (pô, nasci nessa terra também meus caros... quem sabe até num desses bairros grandes que outrora era fazenda do coroné.rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs. Mas fico feliz por ter feito e ainda fazer, acredito, parte desse movimento, a arte não está só para "A" nem para "B", mas para todo aquele que sabe fazer e faz bem. O 1º Cd Jupará e o segundo são algo assim inestimável, acredito que todos, mas os primeiros os tenho como troféus!É uma honra poder mostrar as pessoas de bom gosto e inteligentes, que faço parte desse projeto.
Acredito que o artísta espera o reconhecimento do público, e isso só acontece com parcerias, tipo, dos brothers locutores e produtores. Lembra Marcel?... Já lotamos os centros culturais, as grandes praças e acredito que os artistas continuam lotando mesmo dividindo palco com outros, porém, permanecendo com a boa música. para mim, é o meu melhor estado de felicidade.
Penso que, os que estão sempre do outro lado, do anonimato (fisicamente falando), são os artístas de primeira como qualquer outro e estão sempre presentes em nossas vidas de forma metafísica e através dos vozeirões, fazerendo a merchandise e tocando o nosso som. Se encontrarmos parceiros bons, empresários e produtores da estirpe sua Marcel Leal, ao qual, tenho grande respeito e admiração, tenha certeza...continuaremos compondo coisas boas para vcs nos ajudarem na divulgação e na realização, quem sabe, dos shows (ao menos aqui em itabuna). Parabéns, por continuar dando dicas pra essa gente morena. Obs. "Cada vez que consigo educar uma pessoa, mas educado eu fico e só consigo com isso, fazer coisas boas... músicas boas!" Abçs.