ENTREVISTA: FERNANDO GUIMARÃES.

Depois de muitas tentativas, finalmente podemos contar com um breve bate-papo com o artista Fernando Guimarães.

Se você já o conhece, se deliciará com as palavras e opiniões, se não conhece entenderá parte deste emaranhado de talento chamado FENANDO GUIMARÃES.

AI – Com a tecnologia acessível a todos existe muita oferta de arte através de várias mídias, como o artista deve se posicionar neste novo cenário mundial?

FG - Rrsrsr. Não tenho resposta pra essa pergunta. Cada um se posiciona na vida como quer. Somos todos iguais, mas “alguns são mais iguais”. (George Orwell) rsrsrsr. E alguns não são nada iguais... Os artistas podem se classificar nessa categoria de serem assumidamente diferentes... Em Salvador estive á frente de um Restaurante natural (Rãma), que também era mercadinho natural, banca de revistas, bazar de roupas orientais, padaria e espaço cultural onde se realizavam performances de música, dança, teatro, lançamento de livros e exposições de artes. Certa feita um músico, grafiteiro que trabalhava em uma agencia de propaganda como designer, foi incentivado por amigos a expor seu trabalho novo e inédito. Eram pinturas a óleo em tela. O nosso espaço deu apoio total, realizamos a vernissage com excelente coquetel e cobertura da mídia especializada (Jornais e TVs de SSA) foi um sucesso total de público e crítica. Pedi ao tal artista que me desse a relação das obras com o preço de venda correspondente, porem ele só me deu os nomes das obras e os preços me daria depois. Bem... Todas as obras foram vendidas mesmo sem os preços estabelecidos. Os compradores entusiasmados deram cheques significativos(como sinal) para segurarem a compra. Pagariam o restante ao levarem o produto, ao termino de um mês, tempo este determinado para a exposição publica em nosso espaço. Rapaz... O referido artista sempre desconversava quando eu tratava com ele sobre o assunto do PREÇO e finalmente acabou me dizendo que não iria dar preço nenhum, pois as obras não tinham preço! A questão não era um possível apego do artista para com as obras, já que ele grafitava pelos muros da cidade, outras tantas obras de igual valor, sempre durante a madrugada, evitando a ação policial que reprimia tais “pichações”. Resultado: tive que devolver os sinais dados e convencer os compradores que as obras não tinham sido vendidas á alguém capaz de pagar quantias acima do que eles estariam dispostos a pagar... Rsrsrsr mas o que era que estávamos falando mesmo?

AI – Gerenciar a própria carreira tem sido a saída para o artista, em uma região como a nossa é possível isto? Como sobreviver com a arte na nossa região?

FG - Atualmente trabalho com um Studio de gravação (STUDIO IAN), já gravamos variados estilos musicais, bem como trilhas para teatro, áudio books, Jingles... E sempre me pedem orientação nesse sentido. A minha resposta não é das mais animadoras. Afirmo que a nossa região não dá valor a quase todo o tipo de arte e pouco valor a algum tipo. Quais são os artistas bem sucedidos nessa área? Conta-se nos dedos! Esse tal sucesso é relativo, trazendo pouco retorno monetário. Ser ARTISTA em nossa região é muitas vezes sinônimo de ser: Desocupado, maluco, maconheiro, viado (termo pejorativo para homossexual), estranho, etc. a exceção do meio gospel, onde os músicos são valorizados como mensageiros da palavra de Deus. Se jogar no mundo das artes é uma opção realmente corajosa! Inclusive no meio familiar... Os artistas sempre têm um plano B, tipo advocacia, medicina, comercio, etc. Geralmente eles próprios se bancam artisticamente, com o fruto do plano B...Quando fui para Salvador, tinha passado no vestibular da UFBA em Geologia (plano B) e falei para os meus amigos de infância, (todos artistas) Fernando Caldas, Marcos Cristiano,Claudio Gesteira,Tatau Lua, Jan Costa, Jackson Costa,Adilson Nascimento, Rai Nunes, Emerson Mozart, esse ultimo, era bem garoto. (os denominados posteriormente de OS CARAS DO BNH) eu seria o segundo a ir pra “Bahia”, o musico e poeta Gesteira foi o primeiro a ir,...Foi estudar Comunicação (voltou em seguida)...SIM!... Falei o seguinte pros Caras:"Aí!!! Vocês quando forem a Bahia vão achar as portas abertas por mim! Pois com toda a certeza eu já terei firmado contrato com alguma gravadora e lançado meu LP (vinil)... E podem ficar certos que o meu sucesso será o de vocês também" (nos achávamos geniais)... Mas a realidade do show business se mostrou outra. Naquela época para se fazer sucesso seria preciso “vender a alma” para as gravadoras isso significaria fazer uma arte que antes de tudo tem que ser um produto. Ou então se jogar na então nova moda, a axé music. Eu era um ARTISTA, um músico que tinha um estilo musical próprio e não iria me vender por nada. Tive uma excelente oportunidade de puxar um trio elétrico ... Tipo me descobriram em casa, fazendo meu som “diferente” (uma mistura de rock, MPB, bossa, jazz ou sei lá o que), mas eu não quis! Fui trabalhar como gerente de uma casa de Shows de Jazz (plano C). Tive a oportunidade de conhecer a nata da musica de Salvador e todos os músicos que visitavam a cidade (a casa bombou, virou point da musica, AD LIBITUM era o nome) Por lá tocaram, nomes como, Paulinho da Viola, Sandra de Sá, Banda Garagem, Bigband do Fred Dantas, Andréia Daltro, etc. vi de perto como era dureza ser artista e olhe que esses eram os vitoriosos!...Sim qual é o fio da meada mesmo? Rsrsrsr aaaaá... Eu falo p as bandas e cantores que passam no meu Studio, "Se vocês não querem ser tocadores de barzinho, shopping ou festas, ganhando uma miséria, prá sempre... Corram, saiam fora daqui! Se o estilo é Rock, Pop, Jazz, Soul, Blues, vão para a região sudeste, se for axé, forró, vão pra "Bahia" se for pagode ou arrocha vocês podem começar por aqui mesmo. Esses últimos são estilos musicais bem aceitos em qualquer interior ou periferia. Vão ser “SUPEROUTROS”( Filme de E. Navarro), herois do povão, da musica baiana! Por falar nisso, o nosso virtuoso instrumentista, compositor, arranjador e cantor, excelente em qualquer estilo musical, unanimidade no meio musical como “O CARA” (um dos) da musica grapiuna, EMERSON MOZART, depois de tocar em bares, bandas, dar aulas, produzir CDs, ter suas músicas tocadas nas rádios e TVs locais, resolveu tocar arrocha, visando uma melhor remuneração e permanecer na sua cidade amada, onde está sua família e amigos. Outros foram pra Salvador (o multi instrumentista IRMÃO), Pra S.Paulo (ROBERTINHO RONDÓ), Pra Europa (ADILSON NASCIMENTO, PINGO GRAPIUNA, CLAUDIO KRON), pro Espírito Santo (TATAU LUA). Que melhor exemplo do que JORGE AMADO, um dos nossos mais ilustres escritores, Internacionalmente conhecido. Foi abandonado pela terra mãe, sendo adotado pela vizinha Ilhéus. Se não fosse o DNA de Ferradas, jamais saberíamos sua naturalidade biológica. Eu voltei pra minha amada Itabuna. depois de morar 17 anos em Salvador, aqui estou a uns 13.Como disseram Clodo/Clécio e Climério do Piauí "Não permita Deus que eu corra, pra morrer noutro lugar, não quero passar a vida sem ver a vida passar, tá tudo tão diferente."

AI – Compor, já dizia o poeta, é um parto. Vale à pena parir arte atualmente?

FG - Ninguém escolhe ser ARTISTA, o cabra simplesmente é! Se por acaso desistir do sonho, como eu, o sonho lhe persegue a vida toda, você tem que parir a tal arte, custe o que custar, mais cedo ou mais tarde, não importa se vai fazer sucesso, se vai dar dinheiro ou se vai mostrar apenas para seus amigos... Tem que parir! Eu desisti de fazer arte por anos, mas aqui estou por inteiro na arte!

AI – Como é a receptividade da mídia, do público e dos próprios artistas para a arte local?

FG - A mídia local é receptiva. Sempre tive as portas abertas, tanto na TV, Radio, ou jornal. Quando fomos promover o CD “OS CARAS DO BNH” a mídia foi super legal. Teve uma FM, que não procurei, a FM SUL, me informaram que não toca músicos locais; Não sei ao certo, não sou ouvinte desta, só escuto a MORENA FM, essa sim, eu sei que toca musica grapiuna. Quanto aos artistas locais, é triste dizer, não se prestigiam, nem são unidos (Com algumas exceções). Têm uns grupos ou “panelas” que se estranham. Isso na música , teatro, dança, artes plásticas, propaganda, prosa, verso, comunicação, até nas artes marciais. O que existe é concorrência... Grupos querendo “comer” um pedaço maior do “bolo solado” que a nossa cidade oferece aos artistas. Essa concorrência acaba por transformar esse “bolo” em migalhas que caem e são comidas debaixo da mesa. O Velho Raul Seixas já dizia, “Um Sonho sonhado sozinho é um Sonho. Um Sonho sonhado junto é realidade”

AI – Quais os seus projetos artísticos do momento e os futuros?

FG - A arte em mim é algo que acontece... Sem aviso ou programação... No mais vou produzindo CDs de bandas e músicos da nossa terrinha querida ou de quem vem de fora pra gravar com a gente. Vou citar alguns com trabalhos realizados no STUDIO IAN: BANDA NATASHA, MENDIGOS BLUES, CONSPIRAÇÂO MARUSO, ALIEN REMOT, JAMES PLANK, SINTONNIZE, GERAÇÂO ALFA, BEAT BALLA, SEM PRETENÇÃO, MONTE SINAI, UNIDOS de Ubaitaba, MARTELADA de Camacã, ALMIR de Salvador, VALERIA FLOR CIGANA de Salvador, PASTOR WALDECK de Ilhéus, DAN RODRIGUES daqui e do Rio de Janeiro, PAULA SAYD, DEBORA COELHO de Teixeira, JAN COSTA, JACKSON COSTA, TAINÃ COSTA, MARCIO TADEU, EMERSON MOZART, SOL REIS, IRMÃO MANUEL, ANA FABIA de Coaraci, PATRICIA RIOS de Coaraci, FERNANDO CALDAS do Rio de Janeiro (rsrsrs), JAILTON ALVES (áudio book), MARQUINHOS NÔ (teatro), MATEUS do Pluft Fantasminha (teatro), RITA BRANDI (teatro), MANELÃO DO TIMBÓ, LUAN CALDAS, CRISTIANO BARROS, SÉRGIO DI RAMOS, NONATO TELES... Ufaaaaa!!!! E muitos outros inesquecíveis... que eu esqueci rsrsrsrsrs.

AI – Algo a acrescentar ao nosso bate-papo virtual?

FG - Continuando com o pensamento vivo do RAUL SEIXAS, “A coisa mais penosa do nosso tempo é que os tolos possuem convicção e os que possuem imaginação e raciocínio vivem cheios de dúvida e indecisão.”

AI – Agradecimentos.

FG - Caso alguém queira ouvir meu som, aqui mesmo no Blog tem musicas disponíveis para ouvir e baixar.

Obrigado pela atenção e parabéns pelo bom trabalho realizado nesse BLOG.

 

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